Eleni fechou a porta do dormitório com o pé, ainda segurando sua mochila cheia de livros. Estava cansada depois de uma longa aula de literatura medieval, e tudo o que queria era deitar em sua cama e talvez cochilar um pouco antes do jantar.
Mas quando seus olhos se ajustaram ao quarto, ela paralisou.
O lado de Baba Yaga—aquele cantinho que antes era um santuário gótico cheio de velas pretas, pentagramas e fotos sombrias—estava irreconhecível.
As paredes, antes cobertas por posters de bandas de metal e pinturas macabras, agora estavam nuas, exceto por um quadro simples de um campo florido. A iluminação, que antes era sempre baixa e alaranjada, agora estava clara, deixando o espaço aberto e arejado.
E, sentada na cama, com os joelhos dobrados e um livro aberto no colo, estava Baba.
Mas não a Baba que Eleni conhecia.
Esta Baba estava sem maquiagem, seu rosto limpo e pálido, os olhos um pouco inchados, como se tivesse chorado recentemente. Seu cabelo, antes sempre esvoaçante e cheio de apliques, estava solto e liso, preso apenas por uma simples tiara. E, mais chocante ainda: ela usava óculos.
Eleni ficou pasmada, a boca ligeiramente aberta.
— Boa tarde... — disse, hesitante, colocando sua mochila no chão e olhando em volta, como se esperasse que a decoração gótica reaparecesse por magia.
Baba não respondeu imediatamente. Ela apenas ergueu os olhos do livro, observando Eleni por cima dos óculos antes de fechar o volume com um tap suave.
Eleni decidiu ir ao banheiro para se recompor. Quando voltou, Baba ainda estava sentada na cama, mas agora com um ar mais decidido.
Antes que Eleni pudesse dizer algo, a garota estendeu a mão.
— Oi. Sou a Baba. — Ela sorriu, um gesto tímido, quase frágil. — Acho que a gente não se apresentou direito.
Eleni hesitou, mas aceitou o cumprimento, apertando sua mão com cuidado.
— Eu... eu sou a Eleni.
Baba respirou fundo, como se estivesse ensaiando aquilo há horas.
— Eu não fui uma boa colega de quarto. Me desculpe por... tudo. — Ela fez um gesto vago, como se estivesse se referindo a todos os seus comportamentos anteriores. — Meu psicólogo disse que, para superar meu ex, eu tenho que mudar algumas coisas. Então... — Ela olhou para Eleni com um misto de esperança e vergonha. — Acho que agora podemos tentar ter uma amizade?
Eleni ficou sem palavras.
Era difícil acreditar que aquela era a mesma garota que, apenas alguns dias atrás, tinha deixado um boneco vodu de Eleni em cima da cama "por brincadeira".
Mas algo na expressão de Baba—algo vulnerável e sincero—fez Eleni relaxar.
— Claro. — Ela sorriu, sentando-se na própria cama. — Mas só se você prometer nunca mais fazer feitiços no meu nome.
Baba riu, um som genuíno e leve.
— Prometo.
As duas começaram a conversar sobre a aula de literatura, e Eleni descobriu que Baba era, na verdade, brilhante no assunto. Ela tinha anotações detalhadas e opiniões fortes sobre os romances góticos que estavam estudando.
— Eu sempre gostei de histórias sombrias, mas acho que me perdi um pouco nelas, sabe? — Baba confessou, brincando com a borda do livro. — Meu ex... o Aranha... ele gostava dessa estética, e eu meio que virei isso pra agradá-lo.
Eleni franziu a testa.
— Ele te fez mudar quem você era?
Baba encolheu os ombros.
— Eu deixei. Mas agora estou tentando voltar a ser quem eu era antes.
Eleni sentiu uma estranha conexão com ela. Talvez elas não fossem tão diferentes assim.
Depois de um tempo, Eleni decidiu ir à biblioteca buscar um livro que Baba recomendou. O local estava quase vazio, a luz do final da tarde entrando pelos vitrais altos, pintando o chão de manchas coloridas.
Ela estava no meio dos corredores das estantes, procurando o livro, quando sentiu.
Uma presença.
Alguém estava ali.
Antes que pudesse se virar, mãos fortes a agarraram pelos ombros e a giraram.
Eleni m*l teve tempo de piscar antes que lábios quentes se pressionassem contra os seus.
O beijo foi longo, gostoso, profundo.
Ela reconheceu o sabor imediatamente.
Aranha.
Seu corpo queimou quando ele a puxou contra si, seus dedos afundando na sua cintura com uma possessividade que fez seu coração disparar. Ela tentou se soltar, mas suas mãos, traindo-a, se prenderam ao peito dele.
Quando ele finalmente a soltou, Eleni ficou tonta, os lábios ardendo, o corpo tremente.
Aranha não disse uma palavra. Apenas a olhou com aquele sorriso perigoso—aquele que dizia "você sabe que quer mais"—antes de desaparecer entre as estantes, deixando-a ali, sem ar, com os dedos tocando os próprios lábios.
O que diabos tinha acontecido?
E, pior:
Por que ela queria que acontecesse de novo?
Waiting for the first comment……
Please log in to leave a comment.