A luz do sol entrava suavemente pela janela do quarto de Angelo, iluminando o rosto de Calíope, que ainda estava deitada na cama. O cheiro dele impregnava os lençóis, um aroma que ela não conseguia definir, mas que a deixava ao mesmo tempo confortável e inquieta. Ela tentou se levantar, mas uma dor aguda no pé a fez recuar, soltando um leve gemido. O tornozelo ainda estava inchado e latejante, um lembrete incômodo dos eventos da noite anterior.
A porta do quarto se abriu, e Angelo entrou carregando uma bandeja com café da manhã. O cheiro de ovos, bacon, pão fresco e café preto se misturava ao aroma de frutas frescas e granola. Era um banquete, preparado com cuidado e atenção. Ele colocou a bandeja sobre a cama, próximo a Calíope, e sentou-se ao seu lado, observando-a com um olhar que misturava preocupação e alívio.
— Bom dia — ele disse, com um sorriso suave. — Como está o tornozelo?
Calíope tentou retribuir o sorriso, mas a dor ainda era evidente em seu rosto.
— Ainda dói bastante — ela admitiu, ajustando-se na cama para ficar mais confortável. — Mas o café da manhã cheira maravilhoso. Obrigada, Angelo.
Ele acenou com a cabeça, mas seu sorriso desapareceu rapidamente. Ele respirou fundo, como se estivesse se preparando para algo, e então pegou um jornal que estava embaixo da bandeja. A manchete era chocante: "Estudante encontrada morta em Oxford: overdose ou assassinato?" A foto na capa mostrava uma jovem de cabelos escuros, com uma agulha ainda cravada em seu braço. Calíope sentiu o coração parar.
— Essa garota... — ela sussurrou, os olhos fixos na foto. — Eu a vi ontem à noite. Ela me mostrou aquela sala... aquela sala horrível onde homens de capuz... — sua voz falhou, e ela sentiu um nó na garganta.
Angelo olhou para ela, sério, quase severo.
— Foi disso que eu te salvei ontem à noite, Calíope — ele disse, a voz firme, mas carregada de emoção. — Você não faz ideia com quem está se metendo. Esses caras... eles não brincam. E se você continuar fuçando onde não deve, vai acabar como ela.
Calíope sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Ela olhou para Angelo, tentando encontrar palavras, mas nenhuma saía. Ele continuou, sua voz mais baixa agora, como se temesse que alguém pudesse ouvir.
— Desde que cheguei aqui, há um ano, já houve várias mortes assim. Garotas, todas entre 19 e 23 anos, mortas de forma brutal. Mas todas são catalogadas como overdoses acidentais ou suicídios. Ninguém questiona, ninguém investiga a fundo. E eu... eu tenho medo de que, se você continuar procurando respostas, você vai ser a próxima.
Calíope finalmente encontrou sua voz, embora estivesse trêmula.
— Mas... mas eu não posso simplesmente ignorar isso, Angelo. Aquela sala... aquelas mulheres... elas estavam dopadas, indefesas. Alguém tem que fazer alguma coisa.
Angelo suspirou, passando a mão pelo cabelo, claramente frustrado.
— Eu entendo o que você está sentindo, mas você não pode ser a heroína de todo mundo. Esses caras são perigosos, Calíope. Eles têm conexões, dinheiro, poder. E eles não vão hesitar em te silenciar se você se tornar uma ameaça.
Calíope olhou para o jornal novamente, para a foto da garota morta. Ela sentiu uma onda de raiva e tristeza, mas também de determinação.
— Então o que você sugere? — ela perguntou, olhando diretamente para Angelo. — Que eu simplesmente finja que nada disso está acontecendo? Que eu ignore o fato de que garotas estão morrendo e que alguém está por trás disso?
Angelo ficou em silêncio por um momento, seus olhos escuros estudando o rosto dela. Finalmente, ele falou, sua voz suave, mas carregada de seriedade.
— Eu sugiro que você seja cuidadosa. Se você quer investigar, faça isso com inteligência. Não vá sozinha, não confie em qualquer um. E, por favor... — ele colocou a mão sobre a dela, um gesto que a fez sentir um calor inesperado — ...não se afaste de mim. Eu não quero te ver machucada, Calíope.
Ela olhou para ele, sentindo a mistura de medo e confiança que ele transmitia. Havia algo em Angelo que ela não conseguia decifrar, algo que ia além das palavras. Mas, naquele momento, ela sabia que ele estava certo. Ela não podia agir por impulso, não com algo tão perigoso.
— Está bem — ela disse finalmente, sua voz mais calma. — Eu vou ser cuidadosa. Mas eu não posso simplesmente deixar isso pra lá, Angelo. Eu não consigo. Eu quero descobrir quem esta por ai matando professores e alunas.
Ele acenou com a cabeça, como se já esperasse essa resposta.
— Eu sei — ele respondeu. — E eu vou te ajudar. Mas precisamos ser espertos. Muito espertos.
Calíope sorriu levemente, sentindo um pouco do peso sair de seus ombros. Ela não estava sozinha. E, por mais perigoso que fosse, ela sabia que não podia desistir. Havia algo sombrio acontecendo em Oxford, e ela estava determinada a descobrir o quê.
Enquanto Angelo começava a servir o café da manhã, Calíope pegou o jornal novamente, seus olhos fixos na foto da garota morta. Ela fez uma promessa silenciosa, para si mesma e para aquela garota cujo nome ela nem sabia.
Ela iria descobrir a verdade. Não importava o quão perigoso fosse.
Waiting for the first comment……
Please log in to leave a comment.