A Oxford Nova fervilhava de vida durante o dia, com estudantes correndo de um lado para o outro, risadas ecoando pelos corredores e o som distante de uma banda ensaiando no pátio. Caliope Wessex caminhava ao lado de sua irmã, Eleni, apresentando-lhe o campus.
— Aqui é a biblioteca — Caliope apontou para o prédio imponente de pedra. — E ali é o refeitório. A comida é... comestível.
Eleni riu, os olhos verdes brilhando de empolgação.
— Estou gostando daqui. É tão diferente de casa.
— Sim, bem diferente — Caliope concordou, mas sua mente estava longe. Ela ainda pensava na missão que a trouxera até ali, nos segredos que precisava desvendar.
A tarde trouxe consigo a primeira aula de Caliope no dia. Ela entrou na sala e sentou-se ao lado de uma garota que sempre tentava evitá-la. A menina, de cabelos escuros e olhos cinzentos, nem sequer olhou para Caliope quando ela se aproximou.
— Oi — Caliope tentou, baixinho.
Nada.
— Eu sou Caliope. Acho que nunca nos apresentamos.
A garota continuou a ignorá-la, os olhos fixos no caderno. Caliope suspirou, decidindo desistir. Mas, no final da aula, a garota olhou para os lados e sussurrou:
— Se quiser saber o que está acontecendo, me encontre na porta da biblioteca à meia-noite.
Caliope ficou parada, sem saber o que dizer. A garota já havia saído da sala antes que ela pudesse responder.
A madrugada em Oxford Nova era silenciosa, o campus mergulhado em sombras. Caliope chegou à porta da biblioteca, o coração batendo forte. Dez minutos depois, a garota apareceu, envolta em um casaco preto.
— Vem — ela disse, sem mais explicações.
Caliope seguiu-a pelas ruas escuras, os passos ecoando no silêncio. A garota parou em frente a uma casa abandonada, apontando para uma janela no andar de cima.
— Olha lá — ela ordenou.
Caliope hesitou, mas obedeceu. O que viu a deixou sem ar.
Dentro da casa, mulheres com pouca ou nenhuma roupa estavam espalhadas pelo chão, dopadas demais para saberem o que faziam. Algumas estavam bêbadas, outras completamente inconscientes. Homens de máscaras circulavam entre elas, rindo e tocando-as de maneira que fez Caliope sentir náuseas.
— Meu Deus — ela sussurrou, os dedos tremendo.
Quando se virou para perguntar à garota o que diabos aquilo era, percebeu que estava sozinha. O desespero a atingiu como um soco no estômago. Ela tentou se afastar da janela, mas tropeçou em algo que fez um barulho alto.
— Quem está aí? — uma voz grossa gritou de dentro da casa.
Caliope não pensou duas vezes. Correu, os pés batendo no chão duro. Mas, em sua pressa, torceu o tornozelo e caiu. Antes que pudesse gritar, uma mão cobriu sua boca e a puxou para as sombras.
— Cala a boca — uma voz familiar sussurrou em seu ouvido.
Ela olhou para cima e viu os olhos azuis de Angelo. Ele a segurava com firmeza, os dedos pressionando suavemente seus lábios.
— Não faça barulho — ele disse, os olhos escaneando a escuridão.
Caliope ouviu passos correndo em sua direção, vozes gritando ordens. Angelo a puxou para mais perto, seus corpos colados um no outro. E então, sem aviso, ele a beijou.
O mundo parou. Caliope esqueceu a perseguição, esqueceu o que vira pela janela, esqueceu tudo, exceto os lábios de Angelo sobre os seus. O beijo era intenso, desesperado, como se ele estivesse tentando protegê-la de algo que nem mesmo as palavras poderiam explicar.
Quando os passos se afastaram, Angelo quebrou o beijo, os olhos ainda fixos nela.
— Vamos — ele disse, pegando-a no colo antes que ela pudesse protestar.
Ele a levou até um carro preto estacionado na esquina, colocando-a no banco do passageiro. Caliope tentou perguntar para onde estavam indo, mas ele colocou os dedos em seus lábios.
— Depois — ele prometeu, acelerando o carro.
O apartamento de Angelo era uma cobertura moderna, com paredes de vidro que ofereciam uma vista panorâmica de Londres e parte da universidade. Os móveis eram pretos com detalhes em prata, minimalistas e elegantes, contrastando com o tapete branco e macio que cobria o chão.
— Você não precisava me carregar — Caliope protestou, quando ele a tirou do carro.
— Claro que precisava — ele respondeu, sarcástico, enquanto a levava para dentro.
Ele a colocou no sofá, indo até a cozinha aberta para pegar gelo. Caliope olhou em volta, tentando processar o que havia acontecido. O beijo. A perseguição. A cena horrível que testemunhara. Tudo se misturava em sua mente, criando uma névoa de confusão e medo.
Angelo voltou com uma compressa de gelo e uma toalha. Ajoelhou-se diante dela, segurando seu pé com cuidado.
— Isso vai doer um pouco — avisou, antes de aplicar a compressa no tornozelo inchado.
Caliope cerrou os dentes, mas não emitiu um som. Ela não queria dar a ele o prazer de vê-la vulnerável.
— O que você estava fazendo ali, Caliope? — Angelo perguntou, os olhos fixos nela.
Ela hesitou, os dedos apertando o sofá.
— Eu... eu estava investigando. Alguém me disse para olhar pela janela.
— Alguém? — ele repetiu, a voz carregada de desconfiança.
— Uma garota. Ela disse que me contaria algo importante se eu fosse encontrá-la à noite.
Angelo suspirou, passando a mão pelo cabelo.
— E você foi. Sozinha. À noite. Para um lugar que claramente era uma armadilha.
— Eu não sabia que era uma armadilha! — Caliope revidou, os olhos faiscando.
— Você nunca sabe, Caliope. É por isso que precisa parar de se meter onde não foi chamada.
Ela olhou para ele, os lábios se apertando em uma linha fina.
— Eu não vou parar. Alguém precisa fazer alguma coisa.
Angelo ficou em silêncio por um momento, os dedos ainda segurando a compressa no tornozelo dela.
— Você não entende, não é? — ele finalmente disse, a voz suave. — Isso é maior do que você imagina. E mais perigoso.
— Então me explique — Caliope insistiu, inclinando-se para frente. — Por que você está envolvido nisso? O que você sabe?
Ele olhou para ela, os olhos azuis refletindo a luz suave do apartamento.
— Eu não posso te contar tudo. Mas saiba que estou tentando te proteger.
— Proteger? — ela riu, um som seco e sem humor. — Você me beijou, Angelo. Isso foi proteção?
Ele ficou em silêncio, os lábios se curvando em um sorriso irônico.
— Talvez tenha sido. Alias sua língua estava na minha boca e eu não te ouvi reclamar
Caliope olhou para ele, confusa e irritada.
— Você é insuportável.
— E você é teimosa — ele respondeu, levantando-se. — Mas é por isso que gosto de você.
Ela não respondeu, os olhos fixos no tapete branco. Angelo foi até a cozinha, pegando uma garrafa de água e um copo.
— Você vai ficar aqui hoje à noite — ele disse, colocando o copo na mesa ao lado do sofá.
— Eu não preciso de babá — Caliope revidou, cruzando os braços.
— Precisa sim — ele respondeu, os olhos brilhando com uma luz divertida. — A menos que queira voltar para o campus com o tornozelo assim.
Ela suspirou, sabendo que ele estava certo.
— Está bem. Mas só por hoje.
Angelo sorriu, pegando um cobertor e colocando-o sobre ela.
— Boa noite, Caliope.
— Boa noite, Angelo — ela murmurou, fechando os olhos.
Enquanto ele se afastava, Caliope sentiu o peso da noite cair sobre ela. O beijo. A perseguição. A cena horrível. Tudo se misturava em sua mente, criando uma névoa de confusão e medo. Mas, no meio de tudo isso, havia uma certeza: ela não ia parar. Não até descobrir a verdade
Waiting for the first comment……
Please log in to leave a comment.