A sala de monitoramento ficava no porão do prédio de engenharia, escondida atrás de uma parede falsa de tijolos pintados. Angelo Salermo recostou-se na cadeira giratória, os olhos fixos nas dezoito telas que cobriam a parede. Imagens em preto e branco, granuladas, capturavam cada centímetro da Oxford Nova: corredores, laboratórios, dormitórios. Mas seus olhos só seguiam uma pessoa.
Caliope.
Ela aparecia na tela do canto superior direito, caminhando rápido pelo jardim noturno, o rosto iluminado pela luz mortiça de um poste. Angelo inclinou-se para frente, os dedos tremendo levemente ao ajustar o zoom. Viu o momento exato em que ela parou, olhou para trás (como se sentisse seu olhar) e enfiou as mãos nos bolsos do casaco. Sempre desconfiada. Um sorriso involuntário escapou-lhe.
— Tão esperta essa minha rainha — murmurou, passando o polegar sobre a foto dela que mantinha na carteira. Amassada, desbotada, roubada de um álbum de família anos atrás.
Foi aos quinze anos que a vira pela primeira vez. No terceiro casamento do tio dela Keilan Wessex, Caliope, então com treze anos, pendurada em um galho de oliveira, pegando algo para um grupo de garotos que tentavam implicar com sua irmã mais nova, Eleni, Caliope os enfrentou e bateu nos meninos ganhando ali minha admiração.
Angelo, com 15 anos, assistira tudo. E naquela noite, soube: ela seria dele. Não importava o custo.
Na tela, Caliope entrou no dormitório. O quarto dela — quarto 3A — era o único sem câmeras internas. Mentira. Ele instalara microcâmeras no lustre, no espelho, até no botão do interruptor. Tudo para mantê-la segura. Tudo para mantê-la sua.
Quando a viu adormecer sobre os livros, a cabeça apoiada no braço, Angelo levantou-se tão rápido que a cadeira caiu para trás com um estrondo. Não importava. Nada importava além de chegar até ela.
A madrugada engolira o campus quando Angelo escalou a parede de trepadeiras do alojamento feminino. Movia-se como um fantasma, os músculos tensionados sob a camisa preta, as luvas de couro protegendo-o dos espinhos. A janela do terceiro andar estava entreaberta — ele a deixara assim na noite anterior, planejando cada detalhe.
Entrou em silêncio, pousando no chão como uma folha seca. O quarto cheirava a ela: shampoo de lavanda, café amargo, raiva contida. Caliope estava ali, curvada sobre a mesa, a respiração lenta e profunda.
Angelo aproximou-se devagar, cada passo uma eternidade. Seus olhos percorreram suas costas arqueadas, a nuca exposta onde os fios de cabelo escuro formavam uma espiral. Quase tocou. Parou a um palmo de distância, as mãos tremendo.
— Por que você sempre tem que ser tão teimosa? — sussurrou, a voz um fio de mágoa e desejo.
Ele a levantou com cuidado, seu corpo mole e quente encaixando-se perfeitamente em seus braços. Caliope murmurou algo incompreensível, aninhando-se involuntariamente em seu peito. Angelo conteve a respiração. Deus, ela cheirava igual. Igual àquele dia no parque, suor e sangue e lavanda.
Deitou-a na cama, puxando o edredom até seu queixo. Mas não conseguiu ir embora. Ajoelhou-se ao lado dela, os olhos azuis percorrendo cada detalhe: as sardas sob os olhos, a cicatriz quase invisível no lábio inferior (lembrava-se de como ela a ganhara, mordendo um garoto que a chamara de "cigana"), as mãos fechadas mesmo em sono.
— Você devia ter medo de mim, Rainha, não me enfrentar feito um cão raivoso — disse, a mão pairando sobre seu rosto, sem tocar. — Eu devia ter medo de mim.
Mas não tinha. Desde os quinze anos, Angelo moldara-se em ferro. Aprendeu a lutar, a hackear, a matar. Tudo para construir e mater um o imperio de sua familia assim que fosse necessário.
Antes que a razão o detivesse, inclinou-se e pressionou os lábios em sua testa. Um beijo leve como o bater de asas de uma mariposa.
— Minha Calíope
Waiting for the first comment……
Please log in to leave a comment.