Caliope acordou com a sensação de calor ao seu lado.
Era Angelo.
Dormindo.
Na sua cama.
Pela primeira vez, ele não tinha pulado pela janela antes do amanhecer.
Ela sorriu, observando o jeito que a luz da manhã desenhava sombras suaves no rosto dele—a mandíbula forte, os cículos longos, os lábios entreabertos. Ele era lindo.
Dentro do peito, um calor absurdo tomou conta dela. Ela era feliz. Tão feliz que nem sabia que podia ser tão feliz. Sabia que não poderia ficar com ele—não da maneira que queria—mas adorava aquele mundinho que os dois tinham construído, só para eles.
Com um sorriso, ela se inclinou e beijou sua bochecha.
Angelo resmungou, ainda meio adormecido, mas seus lábios se curvaram num sorriso.
— Bom dia, minha Rainha — ele murmurou, a voz rouca de sono, antes de puxá-la para um beijo lento e profundo.
Caliope riu contra seus lábios.
— Você ficou.
— Fiquei.
Ele a puxou para mais perto, e ela deixou-se afundar nele, esquecendo por um momento todas as razões pelas quais aquilo era uma péssima ideia.
Até que—
BAM BAM BAM!
A porta do quarto tremeu com batidas desesperadas.
— CALIOPE! ABRE A PORTA AGORA! — a voz de Eleni era um misto de pânico e urgência.
Caliope e Angelo se separaram num pulo.
— Merda! — Angelo resmungou, sentando-se na cama.
Caliope já estava em pé, o coração acelerado, quando Eleni arrombou a porta—literalmente—e entrou como um furacão.
— ELE PRECISA SAIR DAQUI AGORA! — Eleni gritou, os olhos arregalados. — OS NOSSOS PAIS ESTÃO CHEGANDO!
Caliope congelou.
— O QUÊ?!
Eleni fez um gesto frenético para a janela.
— OLHA! MAMAÃE ACABA DE ME LIGAR DIZENDO QUE ESTÃO ESTACIONANDO!
Caliope correu—mancando—até a janela e o sangue gelou nas suas veias.
Lá embaixo, o carro preto e luxuoso de Alferes Wessex estava estacionado.
E pior: seu pai e sua mãe já estavam descendo.
— NÃO! NÃO! NÃO! — Caliope girou para Angelo, que já estava pulando da cama e pegando a camisa no chão.
— Onde eu me escondo?! — ele perguntou, totalmente sem camisa, o cabelo uma bagunça deliciosa.
Caliope olhou em volta, em pânico.
— GUARDA-ROUPA! — Eleni berrou, jogando as coisas de Angelo para dentro do armário.
Angelo pulou para dentro, levando um tênis na cara no processo.
— Ai, c*****o!
— Desculpa! — Eleni gritou, tacando mais coisas dentro.
Caliope tentou ajudar, mas manqueira como estava, só conseguiu derrubar uma pilha de livros.
— MERDA!
Eleni correu para pegar as coisas, jogando tudo dentro do guarda-roupa, enquanto Angelo tentava se esconder entre casacos e caixas.
— Tem um sapato aqui enfiado no meu—
— CALA A BOCA E FICA QUIETO! — Eleni sussurrou gritando, fechando a porta do armário com força.
Caliope olhou em volta—o quarto ainda parecia um campo de batalha.
— O copo dele! — Ela pegou o copo de água de Angelo e jogou no lixo.
— A cueca! — Eleni chutou algo para debaixo da cama.
— MEU CELULAR! — a voz abafada de Angelo veio do guarda-roupa.
— VAI TER QUE FICAR SEM! — Caliope respondeu, jogando o celular no colchão e sentando em cima.
BAM BAM BAM.
As batidas na porta fizeram as duas pularem.
— Caliope? — a voz profunda e calma de Alferes ecoou do lado de fora. — Abra a porta, por favor.
Caliope engoliu em seco.
— UM SEGUNDO, PAI! — ela gritou, tentando ajeitar o cabelo e olhando para Eleni em desespero.
Eleni assentiu, correndo para a cama e puxando as cobertas para esconder qualquer evidência de que alguém mais tinha dormido ali.
Caliope respirou fundo, tentando parecer normal, e abriu a porta.
— Oi, pai! Mãe! Que... surpresa!
Alferes Wessex ergueu uma sobrancelha, olhando para ela com aquela expressão impenetrável.
— Você está bem, Caliope? — ele perguntou, os olhos escaneando o quarto.
— ÓTIMA! — ela disse, muito alto e muito rápido.
Sua mãe, elegante como sempre, entrou no quarto e cheirou o ar.
— Tem um cheiro estranho aqui.
— É O DESODORANTE NOVO DA ELENI! — Caliope gritou, suando frio.
Eleni piscou, confusa.
— É... é de baunilha com... urânio.
Alferes franziu a testa, mas não comentou. Ele caminhou até o centro do quarto, os olhos pousando no guarda-roupa.
— Você arrumou seu armário?
— SIM! — Caliope saltou na frente dele. — Tô tentando ser mais organizada!
Alferes olhou para ela, depois para Eleni, depois para o guarda-roupa.
— Hmm.
Silêncio mortal.
E então—
TOC TOC TOC.
Alguém bateu no guarda-roupa.
DE DENTRO.
Caliope quase teve um infarto.
Eleni engasgou.
Alferes parou.
— O que foi isso? — ele perguntou, lentamente.
— RATO! — Eleni gritou. — TINHA UM RATO AQUI ONTEM!
— UM RATO. — Alferes repetiu, incrédulo.
— UM RATO GIGANTE! — Caliope confirmou, os olhos arregalados.
Alferes olhou para as duas, depois para o guarda-roupa, depois para a esposa, que parecia estar se divertindo muito.
— Eu acho que vou ver esse rato. — ele disse, andando em direção ao armário.
— NÃO! — Caliope pulou na frente dele. — ELE É... UM MONSTRO ENJAULADO!
— E VIOLENTO! — Eleni completou.
Alferes suspirou, esfregando o nariz.
— Caliope.
Continua ....
Waiting for the first comment……
Please log in to leave a comment.