Capítulo 8
Rafa narrando :
Acordei naquela manhã com o sol entrando pela janela e uma sensação estranha de calmaria, algo que eu não sentia fazia muito tempo. Levantei devagar da cama, sem pressa, e fui direto pro banheiro tomar um banho. A água quente caindo sobre meu corpo parecia até um alívio, como se limpasse não só a sujeira, mas também todas as angústias que eu carregava.
Me sequei, vesti um vestido simples, mas que me fazia sentir confortável. Não queria mais me preocupar com a aparência, só com o que realmente importava agora. Deixei meu cabelo secar naturalmente, passei um pouco de maquiagem só pra me sentir melhor e dei uma última olhada no espelho.
Antes de sair do quarto, me sentei na cama, com a Bíblia aberta sobre as minhas pernas. Eu sentia uma necessidade de me conectar com algo maior, de buscar um pouco de paz. Abri a Bíblia aleatoriamente, e o versículo que meus olhos encontraram foi:
"Espera pelo Senhor, tem bom ânimo, e fortifique-se o teu coração; espera, pois, pelo Senhor." — Salmo 27:14.
Aquelas palavras me tocaram profundamente. Eu precisava de ânimo, precisava de força pra seguir em frente, mesmo sem saber exatamente o que o futuro me reservava. Fechei os olhos por um momento, respirei fundo e comecei a orar baixinho, como se Deus estivesse ali, me ouvindo e me acalmando.
– Senhor, me dá força pra encarar o que vem pela frente. Me guia, me dá sabedoria e clareza, porque, sozinha, eu sei que não vou conseguir. Que eu possa fazer a diferença nesse lugar. Que Tu me mostres o caminho certo. Amém.
Fiquei um instante em silêncio, sentindo um leve alívio no peito. Levantei, fechando a Bíblia com cuidado, e fui em direção à cozinha, com uma sensação de que, talvez, tudo fosse ficar bem.
Desci as escada, minhas pernas estavam mais firmes, e eu estava começando a me sentir em casa, mesmo com toda a novidade. Quando cheguei na cozinha, vi minha tia Beti, com aquele sorriso acolhedor, mexendo em uma panela. O cheiro de café no ar me fez sentir uma vontade enorme de ficar ali, quietinha, sem pressa, só desfrutando da tranquilidade.
– Bom dia, minha filha – ela disse com aquele tom doce, me fazendo sentir um pouco mais leve.
– Bom dia, tia – respondi, me aproximando e pegando uma xícara de café.
– Tia, posso te ajudar na lanchonete hoje? – perguntei, com um sorriso tímido. Eu queria fazer algo, me sentir útil, e quem sabe, distrair a cabeça um pouco.
Ela parou o que estava fazendo, me olhou por um instante, avaliando, e depois respondeu com um sorriso acolhedor.
– Claro, filha! Vai ser ótimo ter uma ajudante. Eu vou te mostrar tudo. Vem cá, que vou te ensinar o que você precisa saber.
Fiquei feliz com a oferta e, logo depois, seguimos para a lanchonete. Enquanto caminhávamos, ela me explicava como funcionava o esquema lá, e eu sentia que, aos poucos, estava encontrando meu lugar naquele novo mundo.
Depois de um tempinho, o movimento começou a crescer na lanchonete. A galera começava a chegar, e o clima ali parecia bem diferente do que eu estava acostumada, mas, ao mesmo tempo, era meio acolhedor. Eu tava me acostumando com o ritmo, correndo de um lado pro outro, ajudando minha tia a fritar uns salgados e a preparar os pedidos. A lanchonete tava cheia, e a pressão era bem grande, mas a sensação de estar fazendo algo me dava um alívio, como se eu estivesse realmente começando a me encaixar nesse lugar.
Foi quando minha tia me chamou:
– Rafa, vem cá, deixa eu te apresentar a Samara. Ela trabalha aqui com a gente e vai te dar uma força.
Ela indicou uma moça que tava atendendo na parte da frente da lanchonete. Samara era morena, tinha um sorriso largo e parecia bem tranquila, apesar do movimento intenso.
– Oi, Rafa, satisfação! – ela disse, me estendendo a mão.
– Oi, Samara, satisfação – respondi, sorrindo de volta, entendendo que é assim que eles se cumprimentam.
Minha tia olhou pra gente, toda feliz.
– A Samara já trabalha aqui há um tempinho, ela vai te ajudar a pegar o jeito do serviço. Não se preocupa, ela é top.
Samara deu um sorriso e assentiu, como se estivesse me tranquilizando.
– Fica tranquila, Rafa, logo logo você vai pegar o ritmo. A gente se ajuda por aqui, né?
Eu assenti, agradecida. Eu estava começando a sentir que estava no lugar certo, aos poucos.
Samara me mostrou como atender as mesas, como organizar os pedidos e até como servir os clientes com mais rapidez. Ela parecia estar me passando o manual não oficial de como ser uma boa atendente, e, mesmo com o movimento intenso, eu estava começando a me sentir mais confortável no lugar.
De repente chegou uns cara e a atenção de todo mundo foi pra lá. Eu olhei rapidamente e vi o cara chegando com um ar todo imponente. O dono do morro, Gibi. Ele entrou com aquele jeito de quem tava mandando ali, olhando com cuidado tudo ao redor, como se fosse o dono do mundo e na real, ele era. Tava com aquele porte que não podia passar despercebido. Tava acompanhado de uns caras e, ao ver o movimento, ele se acomodou em uma das mesas perto da janela.
Minha tia me olhou de canto e, com um leve aceno, fez sinal pra que eu fosse até a mesa dele.
– Vai lá, Rafa, atende ele com cuidado, viu? – ela disse, com a voz mais baixa, mas firme.
Minha mão suou um pouco, mas eu sabia o que tinha que fazer. Eu respirei fundo e comecei a andar até a mesa dele. O cara tinha um olhar afiado, e todo mundo sabia que Gibi não era de brincadeira. Eu tava nervosa, mas tentei manter a postura.
Quando cheguei perto da mesa, ele me olhou sem pressa, como se estivesse esperando a minha atitude.
– O que o senhor vai querer? – Perguntei, com a voz firme, tentando esconder o nervosismo.
Ele me encarou por um tempo, os olhos azuis chamando toda a atenção, e então, com um sorriso de canto, falou:
– E aí missionária – ele diz, com um sorriso de canto e eu sinto as minhas bochechas esquentarem – Me vê aquele lanche da casa, com uma cerveja gelada. Não me faz esperar, tá?
Eu assenti rapidamente, me virando para ir atrás do pedido. O coração ainda batia mais forte, mas eu sabia que, por mais que ele fosse o dono do morro, ali era meu trabalho. Eu ia fazer o meu melhor.
Continua ....
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