Capítulo 7
Nando narrando:
E aí favela, eu sou o Fernando, mas todo mundo me conhece como Nando, tá ligado? Tenho 25 anos, sou moreno claro, olhos pretos, cabelo preto na régua, corpo forte, cheio de tatuagem porque eu curto pra c*****o mesmo.
Nasci e me criei aqui no morro, e apesar de minha mãe sempre ter dado o sangue pra me criar, o pai? Nunca vi. O cara só engravidou minha mãe e meteu o pé no mundo. Ela sempre falava pra mim que, apesar de tudo, ela.nunca se arrependeu de ter me tido como filho. Quando completei 12 anos, já tava trampando como olheiro no morro. Não aguentava mais ver minha mãe trampando em dois empregos e, mesmo assim, faltando o básico em casa. A vida foi me ensinando cedo que se quisesse algo, eu tinha que correr atrás, mesmo que o caminho não fosse fácil.
No começo, era mais um corre de moleque, mas foi me ensinando como o jogo funcionava. À medida que o tempo passou, fui tomando a frente, porque ninguém mais ia fazer por mim. Cada tattoo que fiz foi como uma marca de batalha, de resistência, e até hoje eu carrego cada uma delas com orgulho. O morro me formou, me fez ser quem eu sou, e, por mais que tenha suas dificuldades, é meu lugar, é a minha casa.
Cresci correndo pelos becos, jogando bola com os moleque, e claro, sempre fui parceiro do Gibi. O cara sempre foi firme, desde moleque, e a gente sempre foi junto. Não tinha esse bagulho de rolo, não, a gente se ajudava, fazia tudo junto. Às vezes, nem precisava falar, só no olhar a gente já sabia o que fazer.
Quando o Gibi assumiu o morro, ele me chamou pra ser sub dele. Na hora, eu sabia que aquilo ali ia ser o futuro, o caminho. Não era só sobre controlar a boca ou ser chefe de nada, era sobre ter respeito, dominar a cena e fazer o nome, tá ligado? Eu sempre estive ali, do lado dele, nas horas boas e ruins, e quando ele me chamou pra ser sub, eu sabia que era mais do que uma posição, era um reconhecimento. O Gibi me viu, acreditou no meu potencial, e dali pra frente a gente só subiu.
Eu e o Gibi, somos uma dupla, eu falo que eu sou o cérebro e ele a força, o mano não pensa muito não. Ele já sai metendo o pipoca, e eu já sou mais de te tar apaziguar o bagulho, deve ser por isso que nos entendemos bem. Sempre tomamos as decisões juntos, mas quando ele tá bolado, não tem como fazer ele mudar de ideia. O mano é cabeça dura e eu já conheço e sei como lidar com ele.
O morro é minha vida, é tudo o que eu conheço. Aqui, cresci, aprendi a ser quem sou, e é aqui que eu vou ficar. Hoje, o morro é diferente do que era antigamente, tem mais respeito, mais disciplina. Não é só sobre vender, é sobre quem comanda, quem manda em cada pedaço desse lugar. Eu e o Gibi, a gente sempre foi junto, sempre firmes no que é nosso.
Agora, minha mãe... minha coroa passou por muita coisa, sempre ralando pra me criar sozinha, mas agora as coisas tão melhores pra ela. Hoje ela se casou de novo, e o marido dela é firmeza, tá ligado? O cara cuida dela como ninguém nunca fez. Não é mais ela trabalhando que nem louca, se matando em dois empregos. Ela pode descansar, viver tranquila. O marido dela é bom, é outro cara que entende o valor de cuidar da família, e minha mãe tá mais feliz do que nunca. Eu fico tranquilo, vejo que ela tá bem, sabe? Não tem mais aquela preocupação que eu tinha antigamente, quando eu via ela cansada, ralando pra fazer tudo. Agora, ela tem um pouco mais de paz, e isso me deixa aliviado.
Hoje em dia, mulher não falta, né? Elas se jogam, querem meu rolê, querem ficar comigo porque sabem o que eu tenho: dinheiro, poder... é isso que chama atenção. Não é só a aparência ou o que eu posso fazer por elas, é o que eu represento. E eu não preciso ficar assumindo ninguém, pra quê? Eu tenho quem eu quiser, na hora que eu quiser. Não sou de me apegar, meu lance é aproveitar o momento.
Mulher aqui, mulher ali, é só escolher, tá ligado? E quem vem com a ideia de ficar se prendendo, é só dar o pé, porque eu não sou de me amarrar, não. Eu sou a parada, quem quiser que chegue, quem não quiser, paciência. Mas, no fim das contas eu durmo cada noite com uma diferente não gosto de repetir bucetä não pô! Se tem sobrando pra que pegar a mesma, tá ligado.
Eu tava na boca, naquele corre de sempre, resolvendo uns bagulhos quando o Gibi chegou, com aquele jeitão dele, meio bolado, e já mandando logo:
– Cê não vai acreditar, mano, tem uma mina nova no morro, uma tal de missionária.
Eu olhei pra ele, meio desconfiado. Missionária? No morro? Era o que faltava, pensei.
– Missionária, é? – perguntei, já esperando uma história daquelas.
– É, mano! A mina chegou dizendo que tá aqui porque Deus mandou, que tem uma missão e tal, doideira.
Eu dei risada.
– Aí, Gibi, missão é o caralhø, certeza que essa mina tá vindo fazer o que não presta, mas a gente vai saber logo, não tem erro. Já vou mandar alguém ficar de olho nela – eu digo e ele n**a, fazendo cara de quem já tava no controle da situação.
– Pode deixar que eu vou cuidar disso, eu mesmo vou ficar de olho. Essa mina me intriga, tá ligado? Bagulho doido – ele falou, com aquela expressão de quem tava mais interessado do que deveria.
Eu dei uma risada e falei, zoando:
– Sai fora, eu vou dar um jeito nisso aí. Já tô ligado que tu tá querendo puxar a brasa pra tua sardinha. Mas não vai ser dessa vez não, parceiro.
– Tá doido, ela é gata, mas não faz meu tipo não pô! – ele diz e eu encaro ele
O Gibi me olhou com aquele olhar de quem sabia que ia se meter no que não devia, mas logo ele deu um sorriso de canto e ficou por ali, esperando ver o que ia rolar. Eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, a tal missionária ia dar algum sinal de que não tava ali só pra orar, e a gente ia estar de olho, sempre.
A conversa foi indo pra outro lado, já começamos a falar de outras paradas, tipo um carregamento que tava pra chegar. O Gibi, com aquele jeitão dele, já tava com as informações frescas. A boca não podia vacilar, e eu sabia que o bagulho tinha que sair redondo.
– E aí, Gibi, quando chega o carregamento do morro do Alemão? – perguntei, já ligado que ele tinha contato direto com o pessoal lá.
Ele deu uma olhada na hora, meio desconfiado, como se quisesse garantir que não tava falando demais.
– Já tá quase aí, mano. O pessoal falou que vai chegar à noite, com calma, sem dar bandeira. Tu sabe como é, tem que ser discreto – ele respondeu, mexendo na camisa como se estivesse ajeitando algo.
Eu dei um aceno com a cabeça. A última coisa que a gente queria era chamar atenção.
– Então, bora ficar de olho. Se der qualquer merda, a gente já sabe o que fazer. Esse bagulho não pode falhar, e a grana é boa, tá ligado – falei, já imaginando o lucro que aquilo ia trazer.
O Gibi assentiu, a confiança nos olhos, como se ele já tivesse tudo planejado. Eu sabia que com ele não tinha erro, ele era firmeza, mas não dava pra bobear.
– Relaxa, já falei com os menor. O esquema vai ser tranquilo. Se der algum rolo, a gente resolve na hora – ele respondeu, ainda com aquele sorriso de quem sabe o que tá fazendo.
A conversa continuou, a gente trocando mais detalhes sobre o carregamento e outros movimentos, porque, no fim das contas, o morro era feito disso, de troca de favores, de controle e de estar sempre atento, esperando o momento certo pra agir.
Continua.....
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