Luca Smith
O nome soa exatamente como ela. Confiante e corajosa.
Ainda estou entorpecido dos momentos que passei na presença dela, quando resolvo o que vou fazer. E enquanto volto, repasso o que descobri sobre ela. Solteira, deve trabalhar aqui e é muito inteligente. Além do sorriso lindo. E a tensão que cobria o ar ao meu redor, enquanto ela esteve diante de mim foi… diferente de tudo o que eu já senti. Eu passaria horas ali, apenas conversando com ela, apenas ouvindo o que ela tem a dizer.
- Luca! - A voz do meu pai parece aliviada, quando passo pela porta. Não me importo em disfarçar que estou vindo de fora da casa. - Onde esteve?
Ignoro completamente a pergunta.
- Patricia, podemos conversar? - Ela abre um sorriso enorme. - A sós? - Ela olha para os pais.
- Querido, o que tiver que dizer, pode dizer aqui. - A minha mãe intercede. - Estamos entre amigos. - Ela parece insegura e eu duvido muito que o que eu tenho a dizer deva ser dito aqui, para todos ouvirem.
- Prefiro conversar somente com você. - Falo para ela, e realmente não é o meu objetivo humilhá-la.
- Sua mãe tem razão, Lu. - A voz forçadamente infantil me faz mudar de ideia.
- Certo. - Aperto os olhos entre os dedos, e seguro a caixinha na mão, dentro do meu bolso. - Essa noite, eu deveria te fazer um pedido. - Ela está sorrindo agora, e os demais parecem admirados. - Mas, não farei isso.
Muitas coisas acontecem assim que eu falo essa frase. O meu pai e o pai dela ficam de pé. A mãe dela amolece na cadeira, enquanto a minha dá um gritinho. Os nossos sócios parecem divididos entre risada e choque e ela me encara com ódio, puro e absoluto.
- Somos novos e visivelmente incompatíveis. - Explico. - Não devemos cometer um erro como esse. - A expressão dela está quase desfigurada de raiva. - Espero, honestamente, que você encontre alguém que te faça feliz. Eu não sou essa pessoa, por isso, estou rompendo qualquer compromisso entre nós. - Me viro para os meus pais. - Em casa, conversamos. - Falo. - Ruth, John, obrigado pelo jantar. - A Ruth parece prestes a desmaiar, enquanto o John me encara com incredulidade.
- O que mudou? - O meu pai perguntou. - Nos últimos 20 minutos?
- Um sinal do universo que seria impossível de ignorar. - O final da minha frase é abafado pelo barulho do rosnado da Patrícia. Ela parece pronta para arranhar a minha cara.
Por puro reflexo dou um passo para trás e apoio a mão na pistola que está no coldre, abaixo do meu paletó.
- Você não vai fazer isso comigo! - Qualquer traço infantil ou de simpatia desapareceu. - Nós vamos casar e vamos dar herdeiros aos nossos pais. - Ele fala entredentes, com as mãos fechadas em punho, em cima da mesa.
- Não, não vamos. - Falo, começando a perder a paciência.
Em um movimento, tudo está no chão.
Ela derrubou com o braço toda a louça do café que estava sendo servido, e a cerâmica azul com flores explodiu no chão. O vaso de flores, que está no centro da mesa, foi o próximo a voar. Esse ela jogou na parede, por cima da cabeça do Giovanni, um dos meus sócios.
- Você não entendeu, Luca Smith! - Ela afirmou, revoltada. - Vamos casar sim, fomos criados para esse momento! - Eu sentia um pouco de pena dela, pelo destempero dela.
- Não vou discutir com você, uma decisão que eu tomei. - Falo com firmeza, para encerrar o assunto.
Ela esperneia e eu dou as costas, porque, para mim, já deu.
E ela começa a gritar desesperadamente, demonstrando como é uma pessoa completamente desequilibrada, e isso não foi uma novidade, já era algo que eu imaginava. Ela berrou a plenos pulmões,
- Você vai me pedir em casamento! Nós vamos comemorar esse momento! Fomos criados para isso! A minha vida toda me preparei para esse momento, em que você me pede em casamento e continuamos o legado das nossas famílias! JUNTOS!
- Paty, por favor … Se acalme. - A mãe dela implorava.
- Você não vai se acovardar! NÃO VAI! - Eu não aguentava mais ficar ali e estava pronto para sair, quando ela gritou. - TRAGAM O CHAMPANHE! - Dois garçons entraram na sala, com bandejas cheias de taças e a minha boca secou quando a Amanda entrou, empurrando a mesa móvel, com o balde de gelo e o champanhe.
Pude ver nos olhos dela a surpresa com a situação, e a realidade se jogou na minha cara. Eu não deveria ter feito aquilo em público. Eu sempre soube que a Patrícia era desequilibrada. Eu deveria ter ido embora.
Todos eles pareciam confusos com os gritos dela, e com a mobilização que acontecia ao redor.
Senti o ar ao meu redor ficar mais espesso e concentrei toda a minha atenção na mulher que acabou de entrar, com a expressão de surpresa no rosto, os olhos arregalados de susto, e nada disso diminuiu o ar seguro que ela carrega, a postura profissional e os olhos brilhantes. Os olhos.
Verdes com pontos castanhos, estavam agora, focados em mim.
A expressão dela mudou, deixando de ser de surpresa para se tornar compreensão. Ela se deu conta quem eu era, e do que eu estava fugindo quando a encontrei no jardim. 5 segundos levou para ela tomar uma decisão e começar a puxar o carrinho para trás. Ela chamou os outros dois, o que fez a Patrícia gritar mais.
- Voltaremos quando os ânimos estiverem mais tranquilos. - Ela explicou para ninguém em particular e eu quase sorri, porque ela olhou para mim mais uma vez. E ela estava certa em fugir dali. Porque tudo se tornou tão caótico que se eu pudesse voltar atrás, voltaria, apenas para brindar o silêncio.
A Patrícia continuava gritando, e agora, ela também estava chorando. Ruth Walker tentava acalmá-la. O meu pai e o Jonh estavam discutindo alto e a minha mãe parecia congelada no lugar. Os demais, presentes na mesa, não sabiam muito bem o que fazer, então apenas assistiam a cena, e eu … Bem, eu estava observando ela sair discretamente da sala.
- Volte aqui, sua incompetente! - Essa frase me fez ver tudo vermelho. - Eu ordenei que trouxesse o champanhe, então abra-o e nos sirva! - A Amanda estava congelada, as mãos firmes na mesinha que ela carregava, olhando para a Patrícia com uma dúvida óbvia no olhar.
- O champanhe não será necessario. - Falei e as duas me olharam. - Patrícia, nada me forçará a te pedir em casamento. Aceite, pelo amor de Deus! - Me virei para a Amanda. - Pode ir Amanda, o champanhe não será necessário. - Ela arregalou os olhos e encarou os patrões. De forma sutil o Jonh fez sinal com a mão, e a dispensou. Ela começou a se mover de novo.
- Amanda??? - A Ruth perguntou. - Poucos conhecem esse nome. - E me encarou, esperando uma explicação.
- Mãe, isso não importa! - Pude ver, pelo canto de olho, a Amanda respirar fundo. - Vocês não farão nada? Ele vai apenas romper comigo, depois de dois anos me enrolando, para me pedir em casamento?
- O que sugere, menina? - A minha mãe perguntou. - Que amaremos ele e o obrigue a isso? - Todos ficaram em silêncio, enquanto a minha mãe levantava com calma. - Eu realmente imaginei que você era mais esperta que isso, Patrícia, mas está agindo como uma menina mimada que quebrou um brinquedo. - Ninguém ousava nem mesmo respirar, enquanto a minha mãe caminhava na minha direção. - E você não deveria ter feito isso assim, aqui. Não foi assim que eu criei você! - Ela me repreendeu e eu pude ver a Amanda sorrindo de leve, ainda parada na porta, com os garçons ao redor. - Queridos, foi um jantar ótimo, se tirarmos esse final. - Ela falou para todos, que ainda a observavam incrédulos. - Obrigada Ruth, tudo estava divino. - Se virou para o Jonh. - Walker, peço que nos encontre amanhã na empresa, para planejarmos o que será feito, depois do que aconteceu. - Ele confirmou com a cabeça. - Vamos, querido? - Ela chamou o meu pai que a seguiu pela porta.
Era a minha deixa para partir, e foi o que eu fiz, depois de olhar ao redor uma última vez, e observar os olhos brilhantes da Amanda por mais tempo do que eu deveria, e eu finalmente saí daquele inferno.
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