Mandy
A sensação que eu tinha era que o mundo estava fechando ao meu redor, enquanto eu praticamente corria de volta pro estacionamento do hospital. Agradeci aos céus por estar de tênis.
Eu me atrapalhei com a chave, antes de enfim, destrancar o carro, jogar a bolsa e a m*l|dita pasta no banco do passageiro e fechar a porta. Parei por um segundo, para respirar.
O que foi isso? De onde ele surgiu?
E o principal, por que eu sai correndo?
Abracei o volante e respirei algumas vezes, para colocar os meus pensamentos em ordem, e repassei o que acabou de acontecer.
Ele estava dando em cima de mim.
Eu sei que sou bonita, sem modéstia. Só que eu sou a filha da empregada, pelo amor de Deus!
E o jeito que ele lambeu a boca antes de dizer que queria me recompensar. A minha cabeça é bastante fértil e a minha imaginação foi para lugares vergonhosos demais.
TOC TOC TOC
Dei um grito ao ouvir a batida na janela, e não deveria me impressionar ao ver ele parado do lado do meu carro. Abri a janela e encarei a expressão séria dele, já pronta para gritar.
- Amanda … - Deveria ser proibido a forma com que ele falava o meu nome. Como se estivesse degustando cada letra.
- Você está me seguindo? - Perguntei sem rodeios e ele pareceu surpreso. Olhou ao redor e abaixou na direção da janela.
- Você deixou cair isso. - Ele me estendeu um papel e o meu coração quase parou, quando olhei para o papel, identificando na hora o que estava nas mãos dele.
Puxei de uma vez o papel, me virei e coloquei dentro da pasta, quase com desespero.
Depois encarei a janela da frente, sem saber o que dizer.
- Você leu? - Perguntei, sem coragem de olhar para ele.
Era óbvio que ele tinha lido a po|rra do exame que confirmava que eu era filha bastarda do Walker.
- Só se você quiser que eu tenha lido. - Foi impossível não olhar para ele, com a minha melhor cara de incrédula.
- Você está brincando né? - Ele coçou a cabeça e respirou fundo.
- Quando você soube? - Voltei a olhar para frente, observando cada detalhe do prédio branco do hospital diante de mim, como se ele pudesse me dar uma solução para aquilo tudo.
A melhor decisão era ligar o carro e ir embora.
Só que eu preciava tanto tirar da minha cabeça as milhões de coisas que tinham ali.
- Ontem, depois do jantar. - Falei e abaixei o olhar, encarando o volante. - Ao que parece, o Senhor Walker tem arrependimentos na vida e ele está em uma espécie de meta de redenção e resolveu fo|der a minha vida e a minha cabeça no processo. - Não sei se foi a forma que eu falei, ou o tom de raiva que saiu junto com as palavras, ou se eu estava aparentando tanto desespero, que ele abriu a porta do carro e me estendeu a mão.
- Venha, vamos dar uma volta. - Encarei a mão dele, estendida na minha direção. - E traga os documentos.
O tom dele não me dava espaço para recusas. Dar ordens era natural para ele.
- Por que eu devo confiar em você, Senhor Smith? Até onde sei, você pode ser um ma|níaco. - A expressão dele não mudou nem um centímetro. Ele continuou ali, com a mão estendida, esperando alguma resposta minha.
Bem, eu já estava na me|rda mesmo.
Peguei a pasta, a bolsa e desci do carro, sem segurar na mão dele. Tranquei o carro e encarei o homem parado diante de mim.
Um verdadeiro herdeiro. Rico, lindo e emanando poder.
O tipo de homem que nunca me daria atenção, se não fosse pelo papel que agora queimava dentro da pasta nas minhas mãos. Ele era alto, tinha os ombros largos e usava uma roupa que valorizava cada músculo desenhado no corpo dele. Uma roupa simples, mas com um corte perfeito. Uma camisa preta e uma calça jeans escura, e um tênis que desconfio ser um Jordan no pé, completando o modelo. E o rosto dele?
Era impressionante em níveis que eu nem sou capaz de descrever com detalhes. Tudo seguia uma perfeita harmonia, desde os olhos redondos e vibrantes, em um castanho sedutor, o nariz fino e a boca delineada. E ele tinha um buraquinho no queixo, que quase implorava por um beijo.
Respirei fundo.
Esse homem nunca olharia duas vezes para mim.
- Venha, Amanda. - Ele me estendeu a mão de novo e eu ignorei , me colocando a andar, em direção a saída de pedestres. - Amanda? - Parei e olhei para ele. - Vou te levar para dar uma volta, no meu carro. - Ele falou com naturalidade. - Ele está ali. - Ele apontou para um Mercedes preto, no fundo do estacionamento.
Ele esperou por um segundo, até eu começar a me mover na direção oposta a que eu estava indo, para caminhar ao meu lado.
- Ainda acho que você pode ser um maniaco. - Falei, com seriedade. Ele levou um momento para me responder, como se estivesse pensando na minha pergunta. E quando ele abriu a boca, eu voltei 12 horas no tempo.
- Maníaco ou não, você precisa de ajuda, certo? - E ali estava, o ar de superioridade de um herdeiro de me|rda. Exatamente o tipo de tom sarcástico que a Patrícia usou comigo a vida inteira. Como se eu fosse burra, incapaz de entender coisas simples como a diferença de prata e alumínio, ou até mesmo, identificar uma roupa de luxo.
Eu não era inferior, vivi dentro do mundo dos ricos durante toda a minha vida, no lugar que todas as informações mais importantes eram absorvidas. Se existe alguém dentro de uma casa que sabe tudo, é um funcionário.
Eu não ia admitir ser tratada como menos do que eu era.
Parei de andar e ele me encarou.
- De fato, eu preciso de ajuda, mas isso não te dá o direito de me tratar como se eu fosse inferior, porque você é rico e eu não. - Falei com convicção e ele parecia chocado. - Em segundo lugar, eu realmente estou um pouco perdida com a quantidade de coisas que mudaram na minha vida nas últimas 12 horas, mas um bom profissional pode me ajudar. - Ele ia argumentar, mas eu não deixei. Continuei falando, sem quase respirar. - Você não me deve nada por ontem, então, mesmo que eu esteja grata pela oferta, eu dispenso a sua ajuda.
Me virei e quando entrei no meu carro, ele não me seguiu.
Waiting for the first comment……
Please log in to leave a comment.