Odysseus Megallos, CEO das Empresas Megallos, era o dono dos maiores cassinos de Las Vegas. O Wynn Las Vegas e o ARIA Resort & Casino, dois dos estabelecimentos mais luxuosos da cidade, pertenciam a ele. Sua reputação no meio empresarial era lendária: chamavam-no de “Hidra” porque, sempre que cortavam uma cabeça, pareciam nascer outras duas — ou seja, nenhum obstáculo o detinha.
Naquela noite, porém, depois de um dia exaustivo de reuniões e negociações, Odysseus só queria voltar à sua suíte presidencial, fumar um de seus charutos cubanos, beber seu uísque 18 anos e dormir. A presença incessante de executivos, investidores e até mesmo de bajuladores o entediava.
— Vamos tomar pelo menos um drink antes de subirmos. — propôs Nicolai, seu sócio e amigo de longa data, dando um tapinha no ombro de Odysseus. — Você está com essa cara de poucos amigos, meu caro. Vai te fazer bem.
Odysseus suspirou, olhando em volta. O bar do hotel estava cheio de luzes suaves, com pessoas elegantes bebendo e conversando ao som de uma banda que se apresentava num pequeno palco. Apesar de preferir a privacidade de sua suíte, ele acabou concordando.
— Está bem. Mas só um drink, Nicolai. Só um. — respondeu Odysseus, ajustando o paletó.
Os dois caminharam até o amplo balcão de mármore escuro, onde foram prontamente atendidos. Nicolai começou a falar sobre os lucros do último trimestre, mas, de repente, Odysseus pareceu não ouvi-lo mais. Seu olhar foi atraído para uma mesa próxima ao palco.
Sentadas ali, duas mulheres bem-vestidas riam e aplaudiam os bailarinos que faziam uma apresentação animada. As taças de prosecco brilhavam sob a iluminação do bar, refletindo o entusiasmo das duas. Odysseus prendeu a respiração ao notar a mais jovem das mulheres: ela tinha cabelos castanho-avermelhados, mas o que realmente chamou sua atenção foram seus olhos castanhos-claros, cheios de uma alegria pura, quase infantil. Era um brilho que ele nunca havia visto em ninguém.
— Meu Deus, está realmente hipnotizado, Odysseus? — brincou Nicolai, notando a expressão do amigo.
Odysseus acenou para um garçom que passava:
— Quem são aquelas mulheres? — perguntou, fingindo desinteresse, mas sem conseguir despregar os olhos delas.
— Elas se hospedaram hoje, senhor, e deram gorjetas generosas. — o garçom sorriu, devolvendo o aceno com cortesia.
Nicolai soltou uma risada baixa.
— Nunca vi você tão interessado em alguém de imediato.
— Cale a boca, Nicolai. — murmurou Odysseus, mas não havia irritação genuína em sua voz, apenas uma curiosidade crescente.
Antes que o amigo pudesse dizer mais alguma coisa, Odysseus se encaminhou até a mesa delas. Ele preferia a ação direta — algo que sempre funcionara nos negócios. Por que seria diferente numa situação como aquela?
— Boa noite, senhoritas. — disse ele, com um sorriso contido. — Sou Odysseus… Odysseus Megallos. Poderia me sentar com vocês?
A mulher de cabelos ruivos, riso contagiante, foi a primeira a responder:
— Claro! Fique à vontade. — Ela tinha uma postura descontraída, como se já estivesse acostumada a lidar com estranhos.
Já a de olhos castanhos claros, que Odysseus havia apelidado mentalmente de “gazela”, permaneceu em silêncio por um momento, apenas observando. Ela não pareceu incomodada, mas havia um ar de timidez que a tornava ainda mais encantadora.
— Ótimo. — Odysseus fez sinal para Nicolai, que se aproximou em seguida, enquanto o garçom trazia mais uma garrafa do prosecco que as moças tomavam. — Permitam que meu amigo se junte a nós também.
— Olá, eu sou Nicolai. — o sócio de Odysseus cumprimentou as duas. — E vocês, como se chamam?
A ruiva respondeu primeiro:
— Meu nome é Laura. E esta aqui… — ela apontou para a amiga, tocando-lhe o ombro num gesto carinhoso — …é Charlotte.
— Charlotte… — repetiu Odysseus, medindo o nome em sua boca. — Belo nome.
Charlotte sorriu, um tanto acanhada.
— Obrigada.
Quando o garçom encheu as taças mais uma vez, Charlotte levantou a mão educadamente.
— Eu… eu não vou querer mais. Não estou acostumada a beber e… bem, acho que já alcancei meu limite por hoje.
Laura riu, piscando para a amiga.
— Charlotte é meio novata nessa coisa de festas, se é que me entendem.
— Não há problema algum. — Odysseus comentou, enquanto se sentava ao lado de Charlotte. — Posso pedir algo sem álcool para você.
— Oh, seria ótimo. Talvez só uma água com gás.
Nicolai, por sua vez, acomodou-se ao lado de Laura e começou a conversar sobre amenidades — música, dança, a decoração do lugar. O clima era descontraído, e de vez em quando Charlotte dava pequenas risadas das piadas que Laura contava. Odysseus, por sua vez, a observava com curiosidade.
— Então… vocês chegaram hoje a Las Vegas? — perguntou Nicolai. — Viajaram a trabalho ou a lazer?
— Lazer. — respondeu Laura, sorrindo largamente. — A gente precisava de um… sabe, de um tempo para se divertir.
Charlotte, um pouco mais séria, acrescentou:
— Sim, decidimos que essa viagem seria especial, então… nada de preocupações, só aproveitando cada segundo.
Odysseus percebeu uma sombra cruzar o olhar de Charlotte quando ela falou, mas não quis se aprofundar no assunto naquele momento. Em vez disso, tentou mudar o foco:
— Que bom que escolheram este hotel. Espero que estejam gostando da estadia.
— O quarto é maravilhoso. — Laura respondeu, piscando para Nicolai. — Parece que estamos num palácio.
Enquanto conversavam, o show de dança no palco chegou ao fim. A banda, então, começou a tocar uma sequência de músicas mais tranquilas, clássicos que animavam o ambiente sem ser estridentes.
— Adoro essa música! — exclamou Laura, balançando os ombros no ritmo. — Charlotte, você deveria dançar!
— Eu… eu não sei dançar muito bem. — Charlotte corou levemente.
Odysseus ergueu a sobrancelha, estendendo a mão para ela:
— Posso te ensinar uns passos, se me permitir.
Surpresa, Charlotte hesitou, mas Laura a encorajou:
— Vai lá, Charlotte! É só uma dança, não vai te matar.
Rindo de nervoso, Charlotte se levantou e deu a mão a Odysseus, que a conduziu até a pista de dança. Nicolai e Laura observavam à distância, trocando sorrisos divertidos.
Na pista, Odysseus tocou gentilmente a cintura de Charlotte, guiando-a de forma elegante. A princípio, ela estava rígida, sem jeito, mas a música era suave e a expressão confiante de Odysseus transmitia calma. Aos poucos, Charlotte foi relaxando e, em pouco tempo, eles dançavam com a harmonia de quem se conhece há muito tempo.
— Você está se saindo bem, Charlotte. — Odysseus disse, com um sorriso encorajador.
— Obrigada… — ela murmurou, ainda um pouco tímida. — Acho que só preciso de… prática.
Eles riram juntos, e a banda começou a tocar “Can’t Help Falling In Love”, envolvida pela atmosfera romântica típica de Las Vegas. Assim que os primeiros acordes soaram, Odysseus notou que Charlotte se arrepiou. Ela olhou para ele, e os dois compartilharam um olhar longo e profundo, como se tudo ao redor tivesse ficado em segundo plano.
— É uma das minhas músicas favoritas. — ela confessou, quase num sussurro.
— A minha também. — Ele aproximou os lábios do ouvido dela, falando baixo para que só ela escutasse. A proximidade fez o coração de Charlotte acelerar.
Conforme a canção avançava, a tensão entre eles só crescia. Odysseus sentia o perfume delicado de Charlotte, e ela podia ouvir as batidas fortes do coração dele. Foi um momento cheio de significados que nenhum dos dois planejou ou esperava.
Então, num impulso quase inevitável, os olhares se encontraram mais uma vez — e aconteceu. Odysseus inclinou o rosto, Charlotte ergueu sutilmente o queixo, e o beijo veio suave, mas ao mesmo tempo intenso. Parecia que o mundo inteiro havia parado para testemunhar aquele instante.
Quando se separaram, ambos tinham o coração acelerado. Charlotte levou a mão aos lábios, surpresa com a própria atitude. Odysseus, por outro lado, mantinha um pequeno sorriso no canto da boca, algo raro de se ver em seu semblante habitualmente sério.
— Uau… — Charlotte disse, rindo de nervoso. — Eu… não sei o que dizer.
— Não precisa dizer nada. — Ele respondeu, ainda próximo ao rosto dela. — Acho que foi resposta suficiente.
Eles continuaram a dançar, aproveitando cada segundo ao som de “Can’t Help Falling In Love”. De longe, Laura e Nicolai trocavam olhares cúmplices, pois percebiam que algo muito intenso havia acontecido ali.
Para Odysseus, o homem implacável nos negócios, acostumado a fechar contratos bilionários e a tomar decisões firmes, aquele momento foi um lembrete de que existiam coisas — e pessoas — capazes de desmontar até o mais resistente dos homens. E, para Charlotte, a jovem que decidira viver cada instante ao máximo, aquilo foi a prova de que a vida podia oferecer surpresas mágicas e inesperadas, mesmo nos lugares mais improváveis.
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